segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O espetáculo e suas meritocracias 2/3


A radioatividade pós-moderna entranhou o trabalho artístico depois de algumas décadas de disputa social, a qual contou com movimentos artísticos gerados na contracultura, orgulhosos de sua estética provocativa e escatológica, quanto movimentos - não menos ingênuos - cujas teses revolucionárias e discursos de classe foram apenas injetados em moldes e estética burgueses ou aculturados.

Por outro lado, o amadurecimento de muitos deles e o aparecimento de outros também influenciados por essas duas vertentes, capazes de abalar a arte imposta em sua forma, atribuindo-lhe conteúdo próprio, com força suficiente para burlar aparatos ideológicos e repressivos do poder e alcançar setores sociais expressivos, criaram propostas que permanecem atuais embora minoritárias


Na arte da sociedade do espetáculo, foi implementada a meritoacrobacia. O indivíduo-show da arte é um acrobata. A produção artística a ser financiada pelo capital e seus agentes públicos, exige a superação do feito artístico para resultar em imagem, mercadoria, modelo vendável.

Suas divas máximas são cantoras "teens" cujo show é um verdadeiro fenômeno à parte da música que apresentam, as trocas infindáveis de roupas durante um espetáculo, os cenários providos de mil luzes e desprovidos de sentido, e as coreografias apelativas do corpo como objeto sexual ofuscam qualquer interpretação musical seja boa ou má. Mas tais setores do mercado cujo produto não é arte e sim divertimento, são apenas hegemônicos numa pirâmide contaminada pelo espetáculo até a base.

O individuo show da arte faz stand up sobre a dificuladade de extrair pasta de dente do tubo, escreve sobre o copo de requeijão, sua realidade é a mais imediata possível, seu papel no mundo é o de consumidor, se permite uma pseudocrítica do consumismo mas é incapaz de reflexão sobre as causas dos efeitos que enumera....
As artes plásticas idealizadas pelo mercado esvaziam de conteúdo e transformam em aparência, em superposição de imagens e objetos a obra de arte, com o suposto pretexto de dessacralizá-la.

Atores desesperados em alcançar a revolução tecnológica levam à exaustão mecanismos midiáticos e corpóreos a fim de, provocar e atingir, a catarsis aristotélica atualizada: o orgasmo automático no sistema límbico e suas estruturas. 


Na dança e nas artes marciais a regra é voar, depois de treinos um tanto full time estilo ginástica, outros um tanto bélicos estilo milico.
O indivíduo show é multimídia, e sua palavra de ordem: performance.

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