quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O espetáculo e suas meritocracias - 1/3

A bomba atômica fragmentou os corpos de Nagasaki e o pensamento de Fukuyama.

Para o fim da história, os processos históricos acabaram, mas nesta sociedade do espetáculo tudo é considerado momento histórico a ser eternizado pela imagem, inclusive os momentos históricos. Teria se transformado o presente perpétuo de Guy Debord numa constante oferta de momentos históricos instantâneos, audiovisualizados, publicizados, twittados? Será a a pós-modernidade um supermercado de pseudoacontecimentos pré-prontos, para serem aquecidos em 5 minutos por macro e micro ondas eletromagnéticas? Serão as geleiras da Patagônia, as torres de Manhattan e as pirâmides do Cairo margem de erro do pensamento pós-moderno?             

 A musa de qualquer capitalista ou burocrata é a massa. Na sociedade capitalista em sua fase atual, a massa de 7 mil  megapixels  traz no DNA o sistema, mas a massificação em escala mundial criou um tipo standard de indivíduo, o indivíduo-show, que como toda criatura pode, está longe disso mas pode, rebelar-se contra seu criador.

individuo-show tenta fugir desesperadamente da condição de massa a que é relegado cotidianamente, otimiza seu potencial físico, psíquico, interpessoal/virtual tornando-se apto para o mercado de consumo e eficiente para o mercado de trabalho, isentando responsabilidades sociais do Estado sobre ele ao mesmo tempo que aumentam as responsabilidades policiais do Estado sobre ele -pessoas podem perder a guarda de filhos obesos acusados de negligência, mesmo estes sendo expostos sistematicamente ao arsenal propagandístico de exaltação da gordura sintética.

Esse SHOW MAN é instrumentalizado pelo avanço cientifico inaugurado pelo FAT MAN, dispositivos técnicos e tecnológicos que, em certo grau, suprimem a divisão gearcional a que foi submetido no campo psicológico - ele deve ser eterno enquanto compre. Avanço que, diferente da história de Fukuyama, não terá fim e deveria estar a serviço de um sistema justo no qual a autonomia do ser humano fosse um acréscimo à toda a sociedade e garantia de seu bem estar - transgenia poderia significar um avanço humanitário se não fosse propriedade intelectual privatizada usada para entupir o mundo de soja.

Eu como saudáveis alimentos orgânicos (não obstruo as artérias nem os corredores do SUS), faço exercícios regulares (numa academia que me queima as calorias e um bom dinheiro também), leio revistas atualizantes sobre psicologia, nutrição, neurociências (ainda não posso pagar um personal psico, um personal diet, um personal nerd), mal consigo ler um livro inteiro devido à hiperatividade, e o mais importante, os momentos de ócio, improdutivos, inoperantes, são uma culpa digna de qualquer ensaio nietzscheniano. Para completar, deveria requisitar crédito para comprar um imóvel...
Eu sou a comunista pós-moderna dos sonhos de qualquer capitalista pós-moderno.

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