segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A arte vai salvar a política.

Talvez ninguém seja tão intolerante quanto eu. Tão intolerante quanto eu escutando discurso político de artista. A maioria dos artistas quando o assunto é política costuma ser tão ruim quanto a maioria dos militantes políticos escrevendo poesia. A confusão de conceitos em termos de política só se compara à conceitualização linear em termos poéticos no outro. Eu faço os dois e devo confundir-me um tanto e escrever mal outro tanto, mas criticar eu faço bem.
A situação do Rio Grande do Sul é tal que já anseio muito ler sobre ela futuramente, junto com o Rio de Janeiro (este com os últimos 4 governadores presos), é um verdadeiro estado de calamidade. Professora fazendo faxina para botar algum dinheiro em casa, devido ao atraso e parcelamento do baixo salário, é só uma mera ilustração de todo o quadro calamitoso.
Sempre bom lembrar, caso para os de longe não fique tão claro, é uma crise de sistema, é uma crise arrolada por supostos agentes públicos, verdadeiros gerentes estatais do capital financeiro e sócios ruralistas locais, não é uma crise do povo mas para o povo.
Uma das calamidades: a extinção das fundações. Invisíveis para a base do povo, elas estavam lá, fazendo girar a cultura e arte locais (minha peça ia aparecer na RBS?), protegendo espécies de fauna e flora vitais ao ecossitema (outras entidades dependem da fundação para alocação de animais), contabilizando dados que permitem prospectar o futuro financeiro e o PIB do estado (!), o IBGE precisa saber o PIB do estado...
O movimento para salvar as fundações conformou uma dobradinha política que é a única necessária à governabilidade, a dos trabalhadores e os deputados estaduais que militaram dentro da Assembleia com maior ou menor grau de soltura e comprometimento com o mundo do trabalho.
E o balanço que temos hoje? Uma Assembleia cujo deputado mais votado foi un tenente na cauda do Bolsonéscio. Por outro lado os trabalhadores da FM Cultura da Fundação Piratini fundando uma rádio!
Pera lá, na inauguração da rádio web, no London Pub, na tarde de ontem estava Sofia Cavedon que acompanha a cultura na cidade seja ela feita na Restinga ou no London, e foi eleita para mandato próximo na referida Casa, o deputado Pedro Ruas, inveterado na defesa das fundações, não estava mas mesmo com seu mandato não renovado, bem sabem os servidores públicos que contam com ele em sua militância política sempre. A política está aí e há meia dúzia de mandatos combativos no parlamento gaúcho apesar do tenente e do futuro mandatario burguês como o atual só menos burro. Mas quando se fala em resistência, um fato político dos mais relevantes sem dúvida é a iniciativa desta rádio, Salve Sintonia.
O fenômeno conta com sua especificidade, os comunicadores da Fm Cultura, estes empreendedores, para desmistificar esta atitude a qual o neoliberalismo e seus administradorzinhos se apropriam, este “coletivo de comunicadores artistas” como diz Demétrio Xavier, é de um alto grau de consciência política, articuladíssimos durante o processo de ataque e consequente extinção da Fundação, cientes de seu papel para a sociedade gaúcha e o mais importante, não foram tomados pelo lamentismo político, iniciaram prontamente a construção necessária ao mantenimento da comunicação e arte de qualidade que é sua tarefa fundamental no que se nomeia resistência. No palco do London, José Fernando Cardoso enfatizou: “vamos continuar lutando pela rádio pública e não esqueçamos que nossos colegas que lá estão fazem o que podem para garantir um mínimo de qualidade à emissora”.
A tarde do sunday no London contou com apresentação de Paulinho Moreira mas como o dia era bem brasileiro, foi comemorando o samba que começou e a música não parou até as onze da noite. Nossos artistas de Ian Ramil a Gelson Oliveira, passando por Marcelo Delacroix, Simone Rasslan, Àlvaro Rosacosta, Tonho Crocco, Dany Calixto, Leandro Maia, Nino e sua “coluna Prestes”, entre outros instrumentistas maravilhosos de que não disponho o nome, se apresentaram na “abertura” da Salve Sintonia lindamente encerrada por Demétrio Xavier e sua guitarrita. De Pedrinho Figueiredo que encantou a todos com sua flauta transversa quero falar especialmente porque sua fala retomou o momento que foi um marco na defesa da TVE, FM Cultura e fundações, o festival “Salve Salve” no Centro Municipal de Cultura Lupicinio Rodrigues em junho deste ano. Ali o que houve foi uma demonstração de força, da capacidade de articulação dos comunicadores e artistas. O governo Sartori não conseguiu acabar com os servidores e artistas deste estado, são eles que construindo a resistência, veem o governo acabar e, se estamos longe de uma hegemonia capaz de de haver eleito elementos progressistas em defesa do estado e do povo gaúcho, há no mínimo, uma bela sintonia.

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