terça-feira, 18 de junho de 2013

O povo não esquece, abaixo a RBS


Meus olhos ardem na frente da tela. e olha que eu sou a primeira a sair correndo, o efeito moral - a desmoralização - em mim é muito eficiente, as agressões físicas quando criança contribuíram sobre maneira com minha obediência civil, minhas detenções são todas muito legítimas, dificilmente me verão num surto de heroísmo enfrentando o choque, se meus olhos ardem, imagina os daqueles com vocação para mártir...

Só faltava um ingrediente para a encomenda de docinhos que me foi feita para entregar terça. Sendo o local do protesto ao lado do Mercado Público de Porto Alegre foi para lá que me dirigi antes de chegar ao ato, afinal: primeiro o dever, depois o prazer. Me deparei com algo insólito, antes das 18:30, mercado fechado e três brigadianos atrás das grades - do portão. Desisto de tentar conciliar trabalho e agitação...agora só vou protestar.

Os arredores da Prefeitura tomados, bandeiras tremulando e nas palavras de ordem: cobras e lagartos. Vez que outra se ouvia: Sem partido! Sem partido! Decididamente não haveria luta contra o aumento da passagem na cidade não fosse a militância dos partidos de esquerda nos anos e meses precedentes e sua contribuição intelectual para demonstrar como, mesmo maquiadas as planilhas, as contas dos transportadores não fecham. Partidos que já foram de esquerda, como o PC do B ali presente, só podiam emudecer durante as inúmeras vezes em que a Copa e a Dilma eram o alvo do repúdio, afinal...

Os grandes meios de comunicação que tentaram isolar e criminalizar as primeiras manifestações com considerável repercussão, mudaram a tática de maneira oportunista quando a adesão popular foi massiva ignorando o reacionarismo da mídia. Os editores chefes mudaram a linha. Agora manifestar-se é "belo", um "mar de gente" ocupa as ruas e, desemboca no "pacífico" .Estas bombas de efeito moral atiradas no ar incessantemente são uma tentativa desesperada de introjetar no brasileiro sua duvidosa vocação para a paciência, a pacificidade. Mas o discurso da pacificidade acaba quando se chega às portas da RBS. É aí que mais perigosas que as ondas se tornam as margens que as contêm...Quando chega a hora da Zero Hora a tolerância é zero.

Quando o mar de gente se aproximou do Dilúvio o Choque entrou em ação. Os tubarões da comunicação dispõe de uma tropa de poraquês e seus cavalos nada marinhos. Se o motivo que deflagrou o ataque desferido pela polícia foi, por acaso, a investida isolada à loja de motocicletas lhes veio a calhar, porque desde que adentramos a avenida Ipiranga, o mar já não estava para peixe.O capital é algo fantástico, empossa regimes, derruba regimes e sua ditadura se perpetua. Tenho a impressão que, se os mesmos anarcoboys que insistem em atitudes além coletivo e indiscriminam seus alvos
atirassem uma dúzia de Harley-Davidson ao Dilúvio, desde que fosse no trecho do arroio remoto à RBS, a tropa teria dado um arrego.

Depois de muita tensão gerada pela repressão policial, grande parte da marcha adentrou a Cidade Baixa, foi quando encontrei o que já foram as "amiguinhas" de uma das "filhinhas" da qual fui, sou, sei lá, babá. Meu instinto matriarcal tão desprendidamente reprimido ou a síndrome da cuidadora aflorou, agora tinha uma razão de ser muito nobre no ato, não era dirigir as massas ou enfrentar o Choque, era uma tarefa mais árdua: a mãe da Vitória ao telefone...Fato é que depois desse choque geracional uma coisa está decidida, este ano não vou fazer trinta, vou fazer quinze, de militância. Nesta sociedade de qualquer maneira estarei enquadrada, manifestar-se é crime, mas envelhecer também.

Depois que dispersamos tudo prosseguiu, repressões isoladas, ações impensadas, mas para o bem, nada mais continua como estava...a passagem também já não é a mais cara.
Corri para chegar em tempo de comprar leite condensado, mas o supermercado do esquilo havia fechado as portas apressado.




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