sábado, 29 de agosto de 2015
TRISTE ANIVERSÁRIO
"Agosto é o mês do desgosto". Eu que costumo ser muito popular para ditados, e outras coisas, dificilmente termino agosto sem um desgosto. Depois de anos, tenho ainda recente o sentimento de um final de agosto que começou com um amigo morto, Roberto era arquiteto. Outro amigo Roberto, jornalista, escreveu o livro "Vento Norte: a história do suicídio no Brasil" a partir da constatação de um par seu cuja estatística aponta o mês de agosto como tendo o registro recorde anual de suicídios no estado. É a funesta estética do frio. Segundo minha amiga Flávia, toda dada a cientificismos bioquímicos, a carência de vitamina D, ocasionada pela falta de exposição ao sol neste período, provoca depressão. Eu acredito no livro do Roberto, na vitamina da Flávia, na estatística do outro e na estética do Vitor Ramil.
Se existissem só artistas como Vitor, amigas como Flávia, jornalistas como Roberto, meus agostos seriam bem mais felizes. Só que não...Amanhã, 30/08 é aniversário de outro jornalista o qual eu adoraria se a carência de vitamina D o levassem às estatísticas do outro.
Willian Waack não é pior que Willian Bonner, ambos com as devidas nuances corroboram o mesmo discurso... Ou será que é? Já superamos o dilema do peso do indivíduo na história. Talvez o que separe Waack de Bonner seja o horário, talvez haja coisas que só Waack possa dizer, depois de um certo horário no qual tudo é liberado, tipo "Verdades Secretas". Fato é que por vários motivos Coringa é mais intrigante que Two Face. Em "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" há umas três passagens nas quais o vilão esboça justificar sua risada perversa, seriam seu "trauma inaugural", mas cada uma das possibilidades é uma mentira bizarra, jogando com o histórico da personagem desde sua criação nos anos 40, Nolan parece querer dizer que ele simplesmente é um perverso, a perversão pura como o habano que fumo neste momento. O que produz um pervertido? Uma mãe excessivamente má, uma mãe excessivamente boa,vitamina D em excesso? É muito complexo...
Complexo como um sistema. Esta semana esteve uma vez mais na cidade a auditora Maria Lúcia Fatorelli. Fatorelli compôs a equipe que auditou as "dívidas públicas" dos estados grego e equatoriano. Sua tese é de que, para além da "dívida" existe o "sistema da dívida". Para Maria Lúcia assim como para o Capitão Nascimento a culpa é do sistema.O sistema da dívida é um complexo ardiloso, rebuscado, safado e legalizado pelo qual a dívida se reproduz em velocidade alarmante sobre seus próprios juros não por uma mão invisível do mercado, mas por manobras muito bem orquestradas entre instituições privadas e entes públicos. Os dados numéricos tão bem dominados por Fatorelli perderiam em exatidão aqui mas é algo como 4% do PIB para educação, 22% (voando alto) para previdência e 43% para pagar a agiotagem institucionalizada. Ela prova como a "dívida" corrói quase metade de nosso PIB assim como se fosse uma doença autoimune que acomete nossos órgãos saudáveis. As verdades secretas e as sacanagens sobre o sistema são sem número mas dentre tantas do capital financeiro está essa dos bancos no pais: a instituição calcula quanto pagaria em juros para investir seu capital em si mesma e tem dedução fiscal pelo que pagaria e não pagou!!! Coringa se sentiria um amador entrando num banco no Brasil...
Nesta mesma semana no programa do Willian Waack dois economistas que bem poderiam ser Charada e Pingoim foram categóricos sobre como o PIB brasileiro é corroído pela previdência social ignorando categoricamente os quase 45% desviados para a agiotagem.
Aqui entra um conceito que extrapola o campo das finanças, o conceito de violência. Num país como o Brasil a violência é sui generis, as formas de violência explícita e a ultraviolência elaboradas tanto pelo crime organizado marginalmente quanto pelo crime organizado estatalmente é um universo a ser estudado e combatido de maneira muito particular mas a atrocidade contida no fato de ter quase metade das riquezas produzidas por um povo, o lucro de suas estatais escoando para predadores transnacionais em detrimento do investimento em tudo que poderia reduzir rápida e significativamente a violência stricto sensu faria de Gotham City com sua corrupção, assassínios, Coringas e Pingoins uma agradável colônia de férias para a população brasileira.
Corroborar com um discurso pró petista de que a corrupção fica com gorjeta em comparação com o que as classes dominantes (pretensamente descoladas do PT quando convém. Onde, em Gotham?) expropriam do povo é outro crime, principalmente se for para justificar a corrupção esquematizada por setores emersos da classe trabalhadora lato sensu...Pode até ser gorjeta mas para uma garçonete que não aceita gorjetas por questão de dignidade como eu é um tanto ultrajante.
Na palestra de Fatorelli me deparei já na entrada com um grupo de senhores que mais pareciam uma versão brasileira de "Amici Miei". Aquela turma que envelheceu junta, tem discurso e piada feita pra tudo...Um sobressaía, e era o que mais incomodava também passando para lá e para cá, captando como uma antena quem passava e quem sentava para comentar qualquer coisa, sabia de tudo, sobre tudo e volta e meia proferia: - Enquanto estamos aqui em 300 a Fátima Bernardes chega a 40 milhões! Falava mais um pouco sobre a corrupção ser irrisória perto da dívida pública e voltava ao Ali Kamel e os 40 milhões...
Me lembro de haver lido, ainda jovem, algo como: " A juventude consegue ser qualquer coisa, nunca original". Eu já concordava mas começo achar que agora que os velhos também conseguem ser qualquer coisa continuam com medo de ser originais. Para onde levará um discurso simplista, maniqueísta, preguiçoso? Fico feliz de poder envelhecer com o pensamento jovial de Zizek: " A verdadeira coragem é admitir que a luz no fim do túnel é a luz de outro trem que se aproxima na direção contrária."
Willian Waack nasceu antes da ditadura militar atolar o Brasil na "dívida pública". A exploração e sua desigualdade social já existiam antes da dívida que existia antes dos milicos que só fizeram piorar mas atualmente ela acabou se tornando um bode na sala às avessas, não era o problema principal mas engordou tanto que leva Fatorelli à exaustiva tarefa de andar por todo o país denunciando a aberração.
O trem prestes a atropelar o pessoal que fica defendendo corruptos indefensáveis é o trem que buzina que a única governabilidade popular possível neste país é a aliança com as bases sociais e não as bases aliadas do capital, que a governabilidade possível começa por uma auditoria urgente das dívidas externa e interna. A dívida do estado do Rio Grande do Sul deixo para a crônica do aniversário do Túlio Milman...
Willian Waack nasceu antes da Revolução Cubana, é o parlamentar da burguesia reacionária não eleito cujo programa político conta com 40 minutos diários para proferir discursos odiosos contra qualquer iniciativa que reivindique soberania popular ou nacional que venha da esquerda, do povo ou dos dois juntos então nem se fala. É loquaz pela liberdade de expressão desde que a expressão expresse expressamente o que ele, Ali Kamel, Charada, Two Face, Pingoim julgam como interesses de classe.
O cubano Leonardo Padura visitou o estado há pouco, quando questionado por uma funcionária da RBS sobre sua liberdade de expressão em Cuba fazendo um paralelo com a perseguição travada pelo stalinismo sobre Trotsky ele respondeu: - Na Rússia faz frio, as pessoas queriam matar, em Cuba faz calor, as pessoas querem tomar cerveja".
Padura tem requinte. O discurso do velho não é simplista.
Willian Waack tem requinte, um requinte na perversão de sua eloquência que o diferencia de outros mediadores.
O capital financeiro sediado no Brasil tem nomes e sobrenomes, também tem seus ministros e senadores, mas se fosse escolher uma cara autóctone para desenhar no bolo seria a face sórdida do aniversariante de amanhã. Depois acenderia as velinhas...
http://www.auditoriacidada.org.br/
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